segunda-feira, 24 de junho de 2013

De olho na Historia: Vai passar?



Vai Passar?
por Carô Murgel (historiadora) (Notas) em Sexta, 21 de Junho de 2013 às 13:25 

Ouvindo hoje os jornais falarem sobre a manifestação ontem em Campinas, fiquei pensando o quanto de manipulação a imprensa, especialmente a Globo, tenta impingir aos telespectadores através das mesmas edições de imagens que assistimos no debate de Lula e Collor em 1989.

Eu estava lá, em frente à prefeitura com um grupo de amigos – chegamos na primeira leva da passeata das 70.000 pessoas que tomaram as ruas. A prefeitura estava cheia de jovens, famílias, crianças, idosos. Nos 10 minutos que conseguimos ficar ali antes das explosões das bombas da Guarda Municipal (ops, a responsabilidade pela ação dessa guarda, não esqueçamos, é do prefeito Jonas Donizette, do PSB)  não assistimos nenhum ato de “vandalismo”. E quando começamos a caminhar para deixar o local ouvimos as explosões e sentimos os gases que nos fecharam a garganta e ardiam nos olhos e na boca – a polícia jogou bombas em toda frente da prefeitura, atingindo crianças, idosos, todas as pessoas que ali estavam indistintamente. Pedras? Se jogaram alguma, não vimos, mas vimos pessoas caindo, sufocadas por gases, uma garota de uns 12 anos desmaiada sendo carregada por pessoas desesperadas procurando ajuda.

O que vimos foi um ato de covardia sem tamanho – toda aquela população em frente à prefeitura subiu correndo pela Barreto Leme, uma parte ficou acuada no posto de gasolina na esquina com a Anchieta, o vento levando os gases para cima dos manifestantes. Cena de guerra, de desespero. Uso desproporcional de força, covardia da polícia, do prefeito, dos que deveriam garantir a tranquilidade e o direito da população de ocupar os seus espaços.

Eu que sou a mais pacífica das criaturas senti a ira subir pelo tamanho da covardia, se tivesse encontrado um fardado no caminho também teria vontade de dar umas bolachas bem dadas, por cada uma daquelas pessoas atingidas. Conseguimos sair sem ser pisoteados, porque saímos colados às paredes.

Depois disso Campinas virou uma praça de guerra. Se havia uma minoria violenta, acredito que muitas outras pessoas pacíficas depois dessa recepção policial também atacaram por indignação. Muitas pessoas querendo voltar para defender os que ficaram da violência policial. Nas imagens hoje na Globo, as pedras atiradas foram nesse segundo momento – eles inverteram, fazendo parecer que a população atacou primeiro. Não estou dizendo que não possam ter acontecido agressões antes, mas estávamos olhando para a prefeitura, e o que víamos era muito pacífico, com a população garantindo que pequenos atos exaltados fossem acalmados. Se naquele momento houve de fato, como diz a imprensa, agressão por parte de manifestantes, a resposta policial foi desproporcional.

Estão todos perdidos em relação às manifestações, especialmente a classe política. O que não entenderam? A manifestação que causou a explosão de todas as outras foi em São Paulo – uma manifestação pacífica que foi atacada pela polícia, onde os manifestantes que estavam ali exclusivamente para pedir redução das tarifas foram chamados de vândalos e baderneiros pelo Geraldo Alckmin e pela Globo. O ataque covarde lá (como foi em Campinas ontem) despertou a população – a partir dali o movimento se tornou essa coisa difusa de todas as causas. A gota d’água, creio eu, não foram os 20 centavos, foi a violência do Governo do Estado de São Paulo pela atuação de sua polícia contra manifestantes de uma causa mais do que legítima. E quantas outras causas legítimas temos?

No geral, o que tivemos até agora é uma afronta da classe política aos direitos constitucionais, e com base nas manifestações, podemos listar algumas dessas afrontas:
  1. A origem das manifestações: transporte público. Vários estudos mostraram que proporcionalmente, pagamos o transporte mais caro do mundo, com qualidade mínima. Os incentivos governamentais são em prol das montadoras e do transporte individual. Como os brasileiros vão deixar o carro se a tendência é que sejam tratados como sardinha em lata? Por que o custo é tão alto? Qual é o lucro real dos donos do transporte coletivo? O que ouvimos é que os prefeitos pensam em novos tributos para “compensar” o subsídio.  Hein?
  2. Tá lá na Folha: “Pela quarta vez seguida, o Brasil aparece entre os 30 países do mundo que mais cobram impostos do mundo. Também pela quarta vez, o país ocupa a lanterna em termos de qualidade dos serviços públicos prestados à população”. http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/04/16/brasil-cobra-imposto-caro-mas-e-o-da-menos-que-retorno-a-sociedade.htm. Pra onde vai esse dinheiro? Para dar o mínimo exigido pela constituição que é a qualidade nos serviços vamos precisar de mais impostos? Pra onde vai o dinheiro?
  3. Corrupção no Brasil. O site Jusbrasil estimava, em 2011, o valor em R$ 69,1 bilhões de reais, 2, 3% do PIB na época. O PIB caiu, mas temos certeza que a corrupção não. Ah, por isso precisamos aumentar os impostos, claro. Estamos sustentando mal a corrupção. (http://sindjufe-mt.jusbrasil.com.br/noticias/2925465/o-preco-da-corrupcao-no-brasil-valor-chega-a-r-69-bilhoes-de-reais-por-ano)
  4. Nas últimas eleições a bancada evangélica no congresso aumentou em 75%. Deve ser por conta do milagre que acontece ali, nada laico: o milagre da multiplicação do patrimônio pessoal de deputados e senadores. Coisa bonita de se ver, desperta a fé religiosa. http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1365176&tit=Bancada-evangelica-seria-3-partido-da-Camara e http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,deputados-justificam-crescimento-de-bens,684995,0.htm
  5. A educação pública é um engodo. Com salários baixos, a grande massa de professores que ainda se propõe a ensinar nas escolas públicas é semi-alfabetizada (sim, há exceções, mas a maior parte não consegue escrever um texto com coerência). O salário atual em São Paulo foi para R$ 2.257,84 (sem os descontos, claro). O salário inicial de um policial militar é de R$ R$2.563,28. Onde a classe política não entendeu que a única coisa que pode derrubar a criminalidade é a Educação – e com qualidade? Querem aprender com a Finlândia como se faz? http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,na-finlandia-a-profissao-de-professor-e-valorizada-,1035943,0.htm. Vejam que lá Humanidades e Artes são valorizadas, ao contrário do Brasil, onde a baixa prioridade é exatamente sobre essas áreas: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2013/06/1298041-e-mails-revelam-divergencias-em-programa-de-bolsas.shtml
  6. Na saúde, assistimos uma grande privatização, já que os hospitais públicos também se tornaram zonas de guerra, sem médicos, sem equipamentos, sem a mínima infra-estrutura para funcionamento. Veja em https://www.youtube.com/watch?v=NyeS-9cozso. Não há dinheiro para gaze e esparadrapo, mas o custo de gastos com as obras para as Copas subiu para R$ 28 bilhões. Ronaldo, esse ícone da Globo e do futebol acha óbvio: futebol é mais importante que a saúde, é um absurdo querer hospital se o que precisamos é de estádios. https://www.youtube.com/watch?v=SuHTkFC_Zyc;
  7. Mais de um milhão e meio de assinaturas foram entregues ao Congresso Nacional pedindo o afastamento de Renan Calheiros do senado. O ato foi solenemente ignorado pelo congresso, assim como as manifestações exigindo o afastamento de Feliciano da Comissão de Direitos Humanos. O pastor não se cansa de suas declarações misóginas, homofóbicas e racistas. Acabou de aprovar a “cura gay”, um ato evidente de desrespeito à Constituição Brasileira – assim como o são as suas declarações. A Câmara ignora, e ignora com isso direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros. http://oglobo.globo.com/pais/manifestantes-entregam-16-milhao-de-assinaturas-pela-queda-de-renan-calheiros-7629464 e http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/06/1297075-proposta-sobre-cura-gay-e-aprovada-em-comissao-presidida-por-feliciano.shtml
  8. Se no caso anterior o pastor passou por cima de todas as recomendações mundiais – desde os anos de 1970 e sobre o Conselho de Psicologia, por outro lado garante o corporativismo médico com o Ato Médico, desconsiderando todas as outras categorias da área de saúde.: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/06/1297761-aprovado-ontem-pelo-senado-ato-medico-tera-impacto-no-sus.shtml
  9. O corporativismo se estende, é claro, aos próprios congressistas, que com as PECs 33 e 37 querem garantir que a corrupção não seja punida: http://www.nacaojuridica.com.br/2013/06/entenda-tudo-sobre-pec-37-e-pec-33.html?m=1
  10. O Estado e a bancada religiosa continuam mantendo as mulheres reféns do corpo: é a única “minoria” que tem seus direitos de escolha castrados legalmente, o que foi ampliado de forma absurda pela PEC 164, sobre os direitos do Nacituro, que inclui a chocante proposta de uma “bolsa estupro”. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1295831-protesto-contra-estatuto-do-nascituro-reune-1500-pessoas-na-praca-da-se-em-sp.shtml.   Tratadas como objetos ou “caixotes de reprodução”, não é à toa que a violência contra as mulheres no Brasil é monstruosa (http://redeglobo.globo.com/globocidadania/noticia/2013/03/violencia-contra-mulher-brasil-avanca-mas-problemas-persistem.html) Desnecessário dizer que Feliciano tem se esforçado nessa frente também: http://oglobo.globo.com/pais/feliciano-quer-votar-bolsa-estupro-na-comissao-de-direitos-humanos-8715450 .

Lembro que no fim da Ditadura Militar, em 1985, a música que representava aquele momento era Vai Passar, de Francis Hime e Chico Buarque, cujo trecho que todos cantavam com fervor era “Dormia a nossa pátria mãe tão distraída / Sem perceber que era subtraída / Em tenebrosas transações”. 30 anos depois, o que essa moçada está dizendo é, ainda, isso.


Vai passar
(Francis Hime e Chico Buarque)

Vai passar
Nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai se arrepiar
Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais

Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações

Seus filhos erravam cegos pelo continente
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)

Palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
E os pigmeus do bulevar
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear

Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral
Vai passar

terça-feira, 11 de junho de 2013

Viver melhor: "Temos que voltar à medicina antiga"


Médico, dono e diretor da Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, Luis Roberto Londres critica sem meias palavras o modelo atual de assistência à saúde:

"Tudo o que aprendi eu devo à medicina pública e beneficente. Era o orgulho dos médicos o trabalho público, de ensino, pequisa e beneficente. Medicina é uma missão. Hoje a gente vê que outras dimensões estão sendo mais valorizadas que as pessoais: tamanho, empresa, dinheiro, conglomerados. Está se pervertendo uma atividade que é basicamente humana.

"Dizem que o problema é financiamento... será que é? Acho que falta comprometimento de todos. Todos estão preocupados com sua coisinha, sem participar. Temos que fazer a diferença como autoridade. A presidenta é apenas nossa representante. Como a gente aceita que nossa saúde pública seja um lixo? Antes, os presidentes não se tratavam no Sírio-Libanês, mas no Hospital dos Servidores do Estado. É uma inversão de valores, quem paga o atendimento deles no Sírio-Libanês somos nós. Qual o problema então? Falta médico, ou há médicos concentrados? E será que temos leitos hospitalares de menos? Tem leitos hospitalares ocupados indevidamente.


Frio e gripe? Canja de galinha (caipira, é claro)




Existem comidas milagrosas, sim, e a canja de galinha
é uma delas. A melhor que tomei na vida foi em
Minas, num hotel de Cambuquira, muitos anos atrás.
Cheguei lá com dor de cabeça, o rosto congestionado,
uma sensação de gripe encostando, apetite nenhum.
A dona do hotel me convenceu a tomar um
prato de canja. Tomei dois. Dia seguinte era outra
pessoa, feliz e bem disposta.

A canja de galinha tem a felicidade de combinar
sabor e textura agradabilíssimos com uma poderosa
ação medicinal. É conhecida no mundo inteiro por
suas propriedades benéficas para adoentados e convalescentes.
Chegou ao Brasil com os marinheiros
portugueses que vinham da Ásia, ainda no século
XVI; daí ter virado um prato tradicional brasileiro.

Canja vem do kanji indiano e do congee chinês,
papas ralas de arroz longamente fervido. Na China a
pessoa acorda e vai à lanchonete comer congee. Escolhe
e coloca numa tigela pedacinhos de vegetais,
carnes, peixes e ovos, todos crus, que vão receber
por cima o caldo de arroz pelando que os deixa
semicozidos: fáceis de digerir, mas sem perda de
enzimas e vitaminas. Há muitas opções entre os complementos,
inclusive medicinais.

Nos mosteiros Zen o congee se chama okaio. O
arroz cozinha a noite inteira em fogo baixo e é servido
no desjejum, acompanhado por uma pequena
porção de verduras como repolho ou couve-chinesa,
refogadas em óleo de gergelim com um pouquinho
de shoyu. Gersal e salsa por cima. Um pedaço de
nabo em conserva é a sobremesa, e uma taça de chá
encerra o serviço. É comida suave, para ajudar a esvaziar
a mente.

O longo tempo de cozimento torna as papas de
arroz muito fáceis de digerir e absorver. Acalmam o
trato intestinal e limpam os rins. O leite de arroz, que
se obtém passando a papa na peneira, é uma bebida
deliciosa e altamente nutritiva. Pode ser dado na mamadeira
aos bebês já no início do desmame, após os
6 meses. Também é alimento ideal para pessoas muito
idosas, que segundo a medicina chinesa podem comer
papas o dia inteiro, a qualquer hora, para se
manterem fortes mas sem sobrecarga.
Buda, no Livro da Disciplina, enaltece os poderes
da papa de arroz, que comia com leite fresquinho
e mel: “Dá dez coisas aos que a comem – vida e
beleza, facilidade e força. Dissipa fome, sede e vento.
Limpa a bexiga. Digere a comida. É louvada pelo
bem-aventurado.”

A papa de arroz se faz com uma parte de arroz
integral ou branco e oito a dezesseis partes de água.
Lave o arroz e deixe de molho na véspera para
ir transformando os grãos. Panela grossa é importante.
Se não tiver, coloque uma chapa de ferro ou pedra
por baixo, ou um bom dispersor de calor. No
fogão: reduzir a chama ao mínimo assim que ferver e
cozinhar por três horas ou mais. No forno: em caçarola
tampada, por três ou quatro horas, também em
fogo baixo. Na panela elétrica slow cooker: 8 horas
na temperatura mínima.

Em caso de gripe ou resfriado, a canja de galinha
– arroz cozido longamente com uma galinha inteira
em bastante água – ajuda a vítima a melhorar
mais rápido porque é rica em cisteína, um aminoácido
que ajuda a expelir o muco dos pulmões. Mas tem
que ser galinha caipira, criada sem antibióticos nem
substâncias químicas, ou seja: comendo minhoca e
namorando o galo até ficar bem velhinha e generosa.

Quem se resfriou com frio ou vento pode tomar
a canja bem quente e apimentada, pois o calor e a
pimenta vão ajudar a mover os fluidos para fora e
expectorar. A pimenta-vermelha pode ser usada ao
natural, em conserva ou em pó, para um resultado
antibiótico, antiviral e altamente suadouro, que expulsa
o fator externo da gripe e faz a energia circular.
Já para fraqueza pós-parto, a canja deve ser muito
mais santa: começa com uma galinha inteira, fervida
até desmanchar. Coe, deixe esfriar, retire a gordura
com papel-toalha e reserve o caldo. Faça a papa normalmente
com arroz e água. Quando estiver quase
pronta, junte o caldo de galinha, cozinhe mais um
minuto e sirva.

Considerem-se com fraqueza pós-parto todos os
que assim o desejarem.

Crônica do livro Amiga Cozinha
galinhas de estimação da Celina Gusmão

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Agora é o trigo transgênico?



AS-PTA boletim@aspta.org.br por  bt01.terra.com 
16:44 (5 horas atrás)
para shirsch
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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Trigo contaminado por transgênicos leva Japão a suspender importações dos EUA
Car@s Amig@s,
O trigo transgênico não é autorizado para plantio comercial ou para o consumo em nenhum país do mundo. Em 2002 a Monsanto solicitou às autoridades regulatórias dos EUA e do Canadá a liberação do produto, mas foi tão grande a rejeição, tanto de consumidores como de produtores do cereal, que a empresa acabou por desistir do pedido em 2004. Teve muito peso, à época, a pressão exercida pelos grandes produtores de trigo, que temiam perder os mercados de exportação para a Europa e a Ásia.
O temor não era sem sentido. Nesta segunda-feira (03/06) o Japão informou que irá suspender as importações de trigo dos EUA enquanto a Monsantoinvestiga o caso de contaminação de trigo pela variedade geneticamente modificada em uma plantação no estado de Oregon.
O anúncio foi feito logo depois que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) informou sobre a contaminação. O Japão não só proibiu novas importações de trigo dos EUA, como suspendeu a entrega de vários carregamentos adquiridos anteriormente. O Japão é o segundo maior comprador de trigo norte-americano, perdendo apenas para o México. O site da revista Globo Rural informou que, “segundo informações da Dow Jones, uma autoridade do governo japonês revelou que o trigo recém-chegado nos portos ficará sob custódia. O país não tem com verificar a transgenia do grão e pediu aos Estados Unidos para desenvolver um teste, acrescentou a autoridade.”
Ainda não se sabe como o trigo transgênico contaminou a plantação norte-americana.

A Monsanto publicou uma nota à imprensa em seu site, minimizando a gravidade da contaminação, baseando-se sobretudo no argumento do “histórico de uso seguro” da tecnologia Roundup Ready (RR), que confere às lavouras geneticamente modificadas a tolerância à aplicação do herbicida Roundup (a base de glifosato).
Essa tecnologia é autorizada em alguns países nas culturas de milho e soja e tem sido responsável pelo enorme aumento no uso de agrotóxicos nas lavouras. Nos primeiros anos, cresce exponencialmente a utilização do próprio Roundup. Naturalmente, o mato que deveria ser controlado com a aplicação do veneno começa a desenvolver resistência, e então os agricultores são levados a introduzir nos sistemas outros agrotóxicos ainda mais nocivos que o próprioRoundup (só no Brasil já foram identificadas pelo menos cinco espécies de plantas invasoras que desenvolveram resistência ao glifosato nas lavouras RR).
Os danos ambientais e econômicos desse processo no longo prazo são evidentes. Não bastassem eles, são cada vez mais numerosas as evidências científicas de que as próprias plantas transgênicas representam riscos para a saúde de quem as consome. O exemplo recente mais notório foi a pesquisarealizada na França que verificou o surgimento de tumores em ratos alimentados com o milho transgênico NK 603, tolerante ao Roundup.

Mas a grande questão que esse novo caso de Oregon levanta diz respeito à própria contaminação: ele prova, mais uma vez, que não é possível impedir a contaminação genética oriunda das lavouras transgênicas. Seja através da deriva do pólen, seja através de máquinas, equipamentos de transporte ou estruturas de armazenamento, lavouras convencionais ou mesmo orgânicas acabam, cedo ou tarde, sendo contaminadas por suas similares transgênicas, normalmente provocando grandes prejuízos àqueles que optaram por não plantar as sementes geneticamente modificadas.
Diversos casos na história comprovam a impossibilidade de coexistência pacífica entre os sistemas de produção transgênicos com os convencionais ou orgânicos, mesmo quando a variedade transgênica estava confinada em campos experimentais controlados. Um caso notório nesse sentido foi o do arroz Liberty Link, tolerante ao herbicida glufosinato de amônio, que não era autorizado comercialmente e em 2006 contaminou cerca de 30% da colheita dos EUA, gerando quebra de exportações, prejuízos milionários e indenizações também milionárias da empresa a agricultores prejudicados.
Em outros casos, a contaminação por transgênicos acabou abrindo as portas para a sua legalização. Foi assim com a soja RR no Brasil, que no final dos anos 1990 foi tomando os campos do sul do país clandestinamente. Em 2005 o governo federal autorizou o cultivo comercial do grão com o argumento de que a sua utilização na agricultura já era um “fato consumado”, dispensando os estudos de impacto ambiental e de riscos à saúde. Daí em diante, a porteira para os transgênicos se abriu de vez.
Não é demais observar que em 2009 a Monsanto retomou suas pesquisas sobre trigo transgênico RR e, atualmente, empreende novos esforços buscando criar um clima mais favorável à liberação do produto. O foco agora para introdução e difusão do cereal é a Austrália. O Escritório do Órgão Regulador de Tecnologia Genética (OGTR, na sigla em inglês) já concedeu licença para a implantação de campos experimentais com trigo transgênico em cinco estados, com o objetivo de autorizar a comercialização no país em 2015.
Com informações de:
No Appetite for Australian GM wheat - Safe Food Foundation, abril/2013.

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Neste número:

1. Bahia: Justiça suspende autorização de uso de agrotóxico autorizado irregularmente pelo Ministério da Agricultura
2. Ministro brasileiro vai novamente à China pedir liberação de soja transgênica
3. Abrasco é convidada para avaliar acidente ambiental em Goiás
4. Senado italiano proíbe transgênicos por unanimidade
5. Nestlé evita transgênicos em fórmulas infantis na África do Sul
6. Anonymous derrubam site da Monsanto – #OpMonsanto
A alternativa agroecológica
Manifesto apresenta pautas e desafios da agroecologia em SC
Dica de fonte de informação:
A transgenia está mudando para pior a realidade agrícola brasileira”, entrevista com Leonardo Melgarejo, membro da CTNBio, ao IHU On-Line - publicada em  03 de junho de 2013.
“A agricultura brasileira se vê diante da ampliação de custos produtivos e percebe uma alteração no tamanho mínimo viável para lavouras tecnificadas de milho, soja e algodão. Com isso, pequenos estabelecimentos se tornam inviáveis, o que resulta em aceleração da exclusão de pequenos produtores. Isso significa que, na prática, a transgenia tem acelerado uma espécie de reforma agrária às avessas no rural brasileiro. A expansão das lavouras transgênicas também acelera a simplificação das matrizes produtivas regionais.”
Círculo vicioso
“Ao reduzir o número de produtores e o leque de produtos ofertados, a expansão da monocultura e o avanço das lavouras transgênicas provocam um círculo vicioso, que amplia as dificuldades de permanência das famílias no campo. Perceba: exigindo economia de escala e sendo deletéria para a agricultura familiar, esta tecnologia leva à redução da população rural e acaba inviabilizando a prestação de serviços que são fundamentais para a vida no campo. As escolas, os postos de saúde, as linhas de coleta de leite se tornam inviáveis quando a população se faz rarefeita. Então, é possível afirmar que a expansão dos transgênicos se associa à tendência de fragilização do tecido social necessário para a permanência do homem no campo. Além de reforçar o esvaziamento do campo e refrear o avanço de políticas que apostam em processos de desenvolvimento rural, “com gente”, a transgenia ameaça a qualidade de vida dos que permanecem no campo, ampliando o volume de agrotóxicos utilizados. Tanto é que o Brasil se tornou o país que mais usa agrotóxicos no mundo. Para o agronegócio não é ruim: sugere um maior volume de negócios, permitindo mapear uma expansão do PIB e da contribuição do setor para a economia nacional.”
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