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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Almanaque do banheiro: As partes mimosas da natureza


Tudo na mulher é poesia e samba-canção. Os olhos são o espelho da alma, as mãos herdamos das fadas, o sorriso transporta ao paraíso, a voz é de anjo, a pele de rosas, o corpo de sereia, tudo com infinito poder de beleza e sedução. Mas na hora de falar sobre aquelas pequenas partes tão sensíveis e delicadas não há uma linguagem poética, gentil ou sedutora que traduza o apreço que se tem por elas. A escolha é entre os termos clássicos, tipo vulva e vagina, que soam feios e irreais, os nomes vulgares, aprendidos com pudor e excitação nos grafitos de banheiro, e os inocentes apelidos maternais como xana, xota, xoxota, bimbinha, bobó, pixu, pipi, xibiu, pixirica, xereca, prexeca, perereca, crica, periquita, pombinha, passarinha, bacurinha, partes, países baixos, zona sul...  Acaba-se tascando um “genitália feminina”, que dá à coisa um ar distanciado.

Pois a distância acabou-se, já que é delas que vamos falar: das partes mimosas, que de certo modo governam nossa vida como fontes de prazer, saúde, reprodução, sexualidade — ou vergonha, culpa, repressão, doenças.

A deliciosa “rosa louca” insinuada pela música de Tom Jobim é mesmo uma sucessão de relevos e reentrâncias. Primeiro vem aquele casaco de pêlos, os pentelhos, protegendo o monte-de-vênus, ou púbis, uma parte geralmente gordinha e macia. A qual de repente racha, formando os chamados grandes lábios, que também são macios e gordos. Bem no comecinho da rachadura, mas já na parte interna, fica o mais sensível dos pontos sensíveis da mulher: a cabecinha do clitóris, o tal do grelo, pinguelo, tamatiá, única parte visível de um órgão sexual discretíssimo mas muito fácil de excitar. Junto a essa cabecinha nascem dois babadinhos, um de cada lado, chamados pequenos lábios, que variam muito de tamanho, forma e simetria e se transfiguram durante a excitação sexual, inchando e mudando de cor. Eles contornam a minúscula entrada da uretra, canal por onde a bexiga libera a urina, e terminam na entrada da vagina. A seguir vem uma planície, que é o períneo, e finalmente o ânus, desembocadura do intestino grosso.

A vagina é um canal de paredes rugosas e muito elásticas que vai da vulva até o colo do útero. Sua sensibilidade se limita ao primeiro terço do percurso; daí em diante não sente nada. Na parte posterior faz limite com as mucosas do reto.

Mas o melhor de tudo são os detalhes pitorescos do clitóris, que ficaram ocultos durante milênios e só vieram à luz quando certas feministas (as feministas certas) resolveram meter a mão. Literalmente. Homens não pegam no peru e coçam o saco? Pois elas decidiram pegar nos dedos, cutucar buracos, examinar com lentes e espelhos, fotografar em várias fases do ciclo menstrual, ver como é que fica quando excita, como é que fica quando envelhece (surpresa: o clitóris cresce!), como é que é na preta, na branca, na índia, na japonesa.

O clitóris é assim: uma grande estrutura interna cheia de nervos, músculos e vasos sanguíneos que se espraia pela vulva, incluindo a entrada da vagina e  um pouquinho do períneo, e excluindo o ânus. Toda a região é extremamente sensível, e não só o grelo propriamente dito. Que, aliás, também não é um mero grelo, broto, rebento: aquela cabecinha, meio coberta pelo encontro dos pequenos lábios (mas também pode ser uma cabeçona, tem moça com cada grelo enorme) emenda numa varinha ascendente que até certo ponto dá para acompanhar com o dedo e depois bifurca em duas varetas que descem por trás dos grandes lábios.

Agora o melhor: essa estrutura invisível do clitóris é cheia de tecidos esponjosos que se enchem de sangue e crescem muito à medida que a tensão sexual aumenta, fazendo o grelo ficar completamente empinado. Ou seja: mulher também tem ereção. E quando acontece um orgasmo, as camadas de músculos clitorianos se contraem em uníssono, devolvendo o sangue à circulação e desempinando o grelo, ou seja: mulher também brocha.


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Almanaque do banheiro: Papo de vagina


Uma leitora escreveu dizendo que tem cistos sebáceos vaginais, e eu, que nunca tinha ouvido falar nisso, fui pesquisar no livro Women's bodies women's wisdom, da Christiane Northrup, MD. Não achei os cistos mas me deparei com esta pérola:

"A cultura ocidental considera a área genital 'suja' e a polui com essa atitude. Toda função associada a essa área - parto, sangramento e eliminações - é altamente carregada, emocional e psicologicamente. (...) Desde cedo capturamos a ideia de que essa região é diferente das outras do corpo: tabu, suja, desprezível. (...) Um jovem médico, a uma paciente que se tratava de infecção por fungos, disse: A vagina da mulher é uma lixeira.

"A promoção e a venda de desodorantes íntimos, inclusive em tampões e absorventes, dão à mulher a impressão de que a vagina em estado natural é inaceitável, de que precisa ser desinfetada e desodorizada.

"A mucosa vaginal e cervical saudável oferece à mulher proteção contra as doenças sexualmente transmitidas, inclusive aids; por isso é tão importante mantê-la sadia. O primeiro passo que uma mulher deve dar é atualizar o que pensa sobre essa área do corpo."

O momento de menor imunidade da mucosa vaginal é durante e em torno da menstruação, diz ela; daí ser comum surgirem infecções vaginais nesse período. Sem falar vulnerabilidade da mucosa quando há muito sexo, já que o movimento geralmente faz pequenas lacerações na vagina, na vulva e no clitóris; se houver sêmen, o pH vai ficar mais alcalino por 8 horas, tempo suficiente para que pululem os micróbios geralmente inibidos pela acidez peculiar à vagina; se houver penetração anal e depois vaginal, a contaminação é quase certa; se houver sexo oral, restinhos de bacalhau, café e mousse de chocolate vão deixar bactérias e fungos completamente loucos.

Também é erradíssimo usar o papel higiênico de trás para a frente depois de evacuar - tem que ser de trás para trás. E, ao enxugar xixi, não é para esfregar o papel, basta encostar para que ele absorva o excesso. A vulva, nome da região íntima que inclui entrada da vagina e da uretra, clitóris e pequenos lábios, é uma pessoa sensível. Nem sabonete deve chegar ali: só e somente água, abundante. Viva o bidê! Viva a duchinha ao lado do vaso!

O que se pode fazer nessas situações: ducha higiênica com vinagre - 1 colher sopa em meio litro de água morna, filtrada ou fervida, para normalizar o pH da vagina (comprar o aparelho em casa de material hospitalar), e aplicação de óvulos de calêndula ou de hydrastis durante algumas noites, depois da menstruação, para limpar os resíduos de sangue e células do endométrio (farmácia homeopática).

Detalhe: se a mucosa vaginal estiver irritada, melhor usar óvulos do que ducha, para evitar mais atrito. E só usar ducha ou qualquer outra coisa se for realmente necessário. Em situações normais, a vagina é autolimpante.

 Se a vaginite for recorrente, é bom consultar uma médica homeopata para entender melhor o que está acontecendo. Olho vivo: vagina em dia é cor-de-rosa e cheira bem.

ilustração Cristina Tati