domingo, 28 de setembro de 2014

Quem vive, respira


um ipê com suas favas, molhadinho de chuva

Por trás de nossos atos, palavras e pensamentos, ao longo de todos os dias e noites da
vida, respiramos. Incessantemente, trilhões de vezes, tão sem esforço que mal dá para
notar. Podemos viver muitos dias sem comida, alguns sem água, nem cinco minutos sem
ar. A troca que acontece nos delicados alvéolos pulmonares tem que ser constante: entra
oxigênio, sai gás carbônico. É uma lei primária de sobrevivência.

Mas isso não quer dizer que sempre respiramos bem. Prendemos a respiração, sem
perceber, em momentos de susto ou medo; ficamos sem ar diante de uma notícia grave,
esquecemos de respirar quando preocupados com alguma coisa. São paradas que
refletem um estado de tensão e servem para aumentá-la. Uma pessoa que fuma acende
um cigarro nessa hora e dá uma tragada funda. Outra, com noções de meditação e yoga,
vai fazer um esforço consciente para trazer a respiração de volta. Porque não é só a
troca de oxigênio por gás carbônico que interessa: há um ritmo de vida que a respiração
comanda, e o movimento do ar, seja puro ou poluído, mexe com a energia mental ao
passar pelas vias aéreas superiores.

A respiração rápida excita, a respiração lenta acalma. A rápida é forte, curta,
incompleta. A lenta é suave, longa, profunda: o ar chega até o fundo dos pulmões e
beneficia os órgãos internos com sua massagem. O coração, músculo soberano que
precisa bater direito para fazer circular o sangue e as emoções, reage imediatamente às
mudanças de ritmo respiratório. Não pode ser controlado diretamente, mas obedece à
respiração e se organiza quando ela é tranquila.

Morar nas cidades quase que obriga a tomar consciência da respiração. Grande parte da
atividade cotidiana envolve andar por vias cheias de gente, motos, carros e ônibus
poluentes, letreiros, barulho, perigo. O estresse é inevitável.

Um modo de recuperar o equilíbrio, mesmo no engarrafamento ou na fila do
supermercado, é prestar atenção à respiração e fazê-la lenta, longa e profunda.
Nada mais monótono: inspira, expira. Nem mais contínuo: inspira, expira.

Poderia ser um tédio. Não é. Aos poucos a pessoa observa com mais calma a passagem
do ar pelas narinas e sua descida pelos tubos respiratórios, o modo como o ar enche o
peito e a barriga e logo os esvazia, e de repente uma sensação de leveza cintilante está
tomando conta da cabeça. Respirar torna-se grande como o céu, como o mar. Nuvens e
ondas vão e vêm. Tudo em um espaço interior novo, que aumenta a superfície de
contato da pessoa consigo mesma. No fim, observar a respiração é uma forma pessoal de
meditação que pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar, pelo prazer de
aquietar a mente e entrar nessa camada suave de existência.

Alguma disciplina pode ser necessária no início ~ por exemplo, contar os tempos da
inspiração e da expiração: de 1 a 5 inspirando, de 6 a 10 expirando. Quando esse ritmo
estiver estabelecido, manter a inspiração em 5 tempos e ir alongando a expiração até
15, ou mais. Tomar fôlego, inspirando rapidamente uma boa quantidade de ar para soltálo
aos poucos, é o que fazemos naturalmente ao rezar, cantar ou recitar mantras, que
também nos sossegam.

Além disso, a poluição das cidades é menos prejudicial para quem respira bem. As
mucosas por onde passa o ar têm cílios minúsculos formando um tapetinho onde fica

presa a sujeira. Basta lavar o nariz e a garganta, à noite, para livrar-se dela.

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