sábado, 12 de julho de 2014

Inverno, calor & vida

Inverno: sol lá fora, mas cá na sombra uma brisa geladinha, e haja gengibre para esquentar!
De manhã, chá de gengibre com hortelã: além de ser deliciosa, essa combinação neutraliza toxinas, acalma o fígado, tonifica os rins e regula o fluxo de energia vital.
Meio-dia, um bom pedaço de gengibre na panela de pressão, junto com o grão-de-bico deixado de molho na véspera, mais um raminho de tomilho, sal no final, caldo grosso, azeite ao apagar o fogo: é de comer gemendo, ainda mais num cozido light onde não faltem abóbora, batata-doce, banana-da-terra, alho-poró, couve, repolho, cebola inteira, cenoura.
À noite, é claro, sopa. De qualquer coisa, mas com um pouquinho de sumo de gengibre ralado e espremido, para expulsar o frio e evitar gripes e resfriados.
Muita gente aprendeu a comer gengibre em
restaurante japonês, acompanhando peixe cru.
Ele traz um calor que compensa a natureza fria do peixe.
Porque o estômago, como se sabe, é quentinho; todo o
nosso corpo é quentinho por dentro. Quando entra uma
comida fria, o nosso sistema de aquecimento precisa
trabalhar mais para fazê-la chegar à temperatura em que
o estômago pode digerir. Acontece que a grande fonte de
energia corporal é justamente a comida quente: além
de alimentar, ela doa um calor precioso. E fria, rouba calor.
Essa história de natureza da comida vem
dos chineses, que há milênios observam
os fenômenos do universo. Eles mostram,
por exemplo, que as frutas são quase todas
de natureza fria ou fresca, não vão aquecer
ninguém – a menos que sejam cozidas
ou assadas com aditivos quentes, como
cravo e canela.
Cravo esquenta o estômago, os rins, joelhos e a região
lombar. Canela dispersa o frio do abdômen. Chupar
qualquer um dos dois já começa a aquecer por dentro.
Calor é essencial à vida, e vida se faz a cada momento.
Metade do efeito dos chás medicinais vem da água quente.
Mas nem todo chá esquenta. O preto, puro
ou aromatizado com jasmim, bergamota, pêssego,
maracujá e outras essências, esfria o corpo assim que a
água esfriar – tanto que os ingleses começaram a usá-lo
na Índia justamente para refrescar. Mesmo quente,
faz suar e o suor refresca a pele, que refresca o interior
do corpo. Quem não abre mão do chá preto no inverno
pode temperá-lo com cravo, canela, gengibre, cardamomo
(outra sementinha picante, aromática e deliciosa),
casca de laranja e até pimenta.
Outros alimentos que ajudam a produzir calor:
abóbora, alho-poró, cenoura, cebola, cebolinha verde
(todos lá dentro do cozido), arroz, carnes de coelho
e galinha, rim, mexilhão, cevada, painço, leite de coco,
extrato de malte, chalota (aquela cebola mais comprida
que redonda). Lichia, maçã, pêssego e uva são das poucas
frutas que não esfriam o corpo.
Pés e mãos frios podem ser resultado
de uma alimentação com pouco calor,
que torna a digestão mais difícil.
Este é o grande inconveniente de comida congelada
e aquecida no forno de micro-ondas – os alimentos retêm
a natureza do frio, e o reaquecimento proporcionado pelas
ondinhas não é profundo. Se não houver outro jeito,
compense tomando uma sopinha antes e um chazinho
depois. A sopa pode ser só um caldinho de missô
(massa de soja salgada e fermentada), basta dissolver
uma colher de chá de missô em uma caneca de água
bem quente, cebolinha picada por cima e, claro,
muitas gotinhas de gengibre ralado e espremido.

E quem não gosta de gengibre também não
morre de frio: enrola uma faixa de crepe nos quadris,
por baixo da roupa, e ganha um calor secreto
que apruma qualquer friorento.