domingo, 20 de setembro de 2009

Molhos Myriam



Cada casa tem sua tradição culinária, feita tanto de pratos especiais quanto de pequenos detalhes que marcam. Na casa de minha irmã Myriam, a comida é sempre um ponto alto. Mas o que mais me chama a atenção, pelo sabor e pela perfeição do efeito, são os molhos de salada que ela faz.

Molho de salada costuma ter a mesma receita básica em qualquer lugar do mundo – azeite, sal, limão ou vinagre, um pouco de mostarda para quem gosta, um dentinho de alho amassado. Os que minha irmã faz não fogem à regra, mas inovam. Por exemplo: ela desfolha o maço de agrião, mistura os raminhos com as outras folhas na saladeira e, em vez de jogar fora os talos grossos, inventa picá-los em rodelas miudinhas. Por cima delas é que vai construindo o molho, com suco de limão, sal, um tanto de azeite, outro de água e uma pitada de açúcar ou um pinguinho de mel.

Pra que açúcar?, vou logo implicando. Para tirar a acidez, diz ela, que me escondeu esse segredinho durante muito tempo. Fez bem. E eu me sirvo das folhas, ponho por cima duas ou três colheradas do molho e me refestelo. Não fica oleoso, como quando se coloca o azeite direto no prato, nem corre o risco de ter sal demais. Não fica ácido nem doce. E o sabor agradável dos talos de agrião vai se misturando adequadamente a cada bocado e levando suas precio-sas fibras para onde elas têm que ir. O mesmo molho, Myriam faz com talos de aipo, também chamado salsão. Fica tão bom que se come mais salada só para comer mais molho.

O terceiro e último invento dessa série é seu famoso molho de rabanetes, lavados com a ajuda de uma escovinha e cortados em rodelas muito finas, e aí tem truque: não cortar a raiz, como se costuma fazer logo de início, pois é nela que vai ser possível segurar para conseguir firmeza no corte até o fim. O caldo, abundante, fica rosado. O rabanete não arde na boca e até as crianças acham muito bom.

Outro dia cheguei de visita, sentamos para comer e fui direto ao prato quente. Tem um molho novo, ela anunciou. Como o tempo estava muito frio, a salada não me apetecia tanto. Mas lá pelas tantas ela mencionou o molho de novo e eu me senti no dever de me submeter à experiência. Folhas frescas variadas, como de costume, e na molheira um creme clarinho, quase branco, que à primeira vista não me sugeria nada. O cheiro era bom. Que será?, pensei. Duas, três, quatro garfadas. Eu sentia o sabor leve e gostosíssimo dos temperos de sempre – limão, mostarda, alho, azeite – mas não atinava com o ingrediente especial que estava ali dando a liga. Quando repeti, e ela teve certeza de que eu não ia mesmo adivinhar, revelou com grande satisfação e até orgulho: Inhame!

Inhame?, repeti feito boba, eu que já fiz quase tudo com inhame, que divulgo o inhame há tantos anos, que advogo inhame no lugar da batata. Inhame, ela assentiu. E explicou que, nas férias, com a casa cheia de filhos e netos, achou mais prático fazer logo um litro de molho básico batido no liquidificador. Fez, o sabor era bom, mas faltava consistência. Consistência, consistência, pensou na batata, e por que não inhame? Depurativo do sangue, bom para o sistema imunológico, de sabor neutro, cozinhou dois ou três e bateu junto. Pronto, estava inaugurado um novo molho. Que, a meu pedido, fez de novo, desta vez anotando as quantidades.

Ficou assim a receita de um litro:

300 gramas de inhames cozidos e descascados
1 xícara de chá de azeite
1 1/2 xícara de água
1 colher (sopa) de mostarda
1/2 cebola média picada
1 ou 2 dentes de alho
1/2 limão grande espremido
sal e cheiro-verde (salsa e cebolinha) a gosto
1/2 colherinha (café) de açúcar ou mel.

Opcionais: orégano, pimentão, vinagre balsâmico (1 colher pequena), manjericão, páprica.

Bater tudo no liquidificador até obter um creme homogêneo. Guardar na geladeira, em vidro grande, e ir tirando aos poucos.

Nome? Maionese de inhame.

Duvido que alguém não goste.

Ilustração Celina Gusmão para o livro Amiga Cozinha

Cultura de consumo: Palestra na PUC


Refletir sobre processos de constituição de subjetividades consumistas; evidenciar a relação entre cultura do consumo e aquecimento global; pensar sobre o papel da educação nesse contexto - esse é o objetivo da palestra acima, dia 8/10, às 18 hs, no auditório Padre Anchieta da PUC Rio. A atividade faz parte do Curso de Especialização em Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, coordenado por Léa Tiriba, e os palestrantes são Solange Jobim e Marcelo Andrade, professores doutores em psicologia e educação.

Boa oportunidade de ouvir coisas inteligentes ditas por pessoas interessantes para pessoas muito interessadas.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Celulares, radiação, câncer e esterilidade

Com o título acima, o blog Menina do Dedo Verde começa hoje a postar em capítulos a matéria bombástica da Carta Capital de 16/8 a respeito do nosso tão amado aparelhinho mágico. Carol, a dona do blog, diz que foi um presente meu; na verdade foi o José Carlos Rocha Vieira Júnior quem me mandou, eu só repassei. Vamos lá, sem medo das verdades. Nada é pior do que tudo.

sábado, 12 de setembro de 2009

Da tradição chinesa e dos cinco sabores


Primavera

O leste cria o vento. O vento cria a madeira. A madeira cria o sabor ácido. O sabor ácido nutre o fígado; o fígado nutre os músculos; os músculos fortalecem o coração; e o fígado governa os olhos. Os olhos vêem a escuridão e o mistério do Céu e descobrem Tao, o caminho.

Verão

Do sul vem extremo calor. Calor produz fogo e fogo produz o sabor amargo. O sabor amargo nutre o coração, o coração nutre o sangue e o sangue dá vida ao estômago. O coração reina sobre a língua.

Entre todas as estações

Do centro vem a umidade que cria a terra e a terra cria o sabor doce. O sabor doce nutre o baço, que nutre as carnes que fortalecem o pulmão. E o baço governa a boca.

Outono

O oeste engendra a secura que produz o metal. O metal cria o sabor picante e o sabor picante nutre o pulmão. O pulmão nutre a epiderme que fortalece os rins, e governa o nariz.

Inverno

O norte cria o frio; o frio produz a água; a água gera o sabor salgado; o sabor salgado nutre os rins; os rins nutrem os ossos e as medulas, que fortalecem o fígado; e os rins governam as orelhas.

Luxo para todos: curso de Teto verde no Tibá

Já pensou em ter um gramado em cima da casa? É uma dessas coisas que podem ajudar a refrescar o planeta, além, é claro, de refrescar imediatamente o ambiente em que se mora. É sobre isso o curso do Tibá no próximo fim de semana, em Bom Jardim, região de Nova Friburgo, RJ.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Bem-vinda primavera: Sopa de arroz do Pai José

 

É como um rosto que de repente fica nítido na multidão, a brisa que começa a soprar naquele instante, algo que surge inesperadamente e já faz toda a diferença – ipês-roxos e amarelos pela cidade inteira, montes de buquês lindos se oferecendo! Pode ser mais primavera?
Chega assim sem avisar e vai logo entrando pelos olhos, encostando na pele, trazendo cheiros no vento, dando vontades... Recria-se a vida. Samambaias dão mais lagartas, insetos recomeçam a cortejar lâmpadas, gatas entram no cio, humanos também. Rolam sarampos, cataporas, tosses compridas, gripes e resfriados; o corpo está pondo fora outros tipos de flor. Tudo o que serviu no inverno para reter calor já está sobrando. Eis um momento perfeito para perder aqueles quilinhos que a gente ganhou comendo demais – porque estava tão frio...! 
Como conseguir isso? Também comendo, claro. Principalmente caldos e sopas, para lavar tudo por dentro e desintoxicar. A maior parte das doenças acontece justamente porque vamos deixando acumular toxinas, até não termos mais sensibilidade para discernir entre o bom e o ruim. Boa notícia: em poucos dias de dieta já dá para sentir um corpo novo, a cabeça leve, e o discernimento volta com a consciência do bem-estar.
A sopa de arroz do Pai José é campeã das dietas, porque limpa, emagrece e não dá fome. 
.1 xícara de arroz cru
.16 de água
.6 dentes de alho
.3 cebolas médias
.6 talos de aipo com as folhas
.um alho-poró também com as folhas
.12 ou mais folhas de bertalha
.e ainda hortelã, cebolinha, salsinha, manjericão, hortelã ou coentro ou qualquer outra folhinha verde comestível - valem os trevinhos dos vasos na varanda
Ponha o arroz para cozinhar naquele montão de água, de preferência em panela grossa, de pedra-sabão, barro ou ferro esmaltado; quando ferver abaixe o fogo, tampe e deixe cozinhar por três horas, mexendo de quando em vez.
Corte a cebola em gomos, o aipo e o alho-poró em fatias grossas diagonais,
descasque os dentes de alho e ponha tudo lá dentro, levantando o fogo, para abaixar de novo depois que ferver. Junte mais água se for o caso. 
Deixe ferver 40 minutos, misture as folhas de bertalha, apague o fogo e tampe.
Sirva com uma colher (chá) de missô em cada porção e verdinhos frescos por cima. 
Pode comer à vontade. Substitui ao menos uma refeição por dia, com resultados maravilhosos. Por quê? 
Primeiro porque o arroz integral cozido longamente, às vezes a noite inteira, é o alimento mais medicinal que existe: fácil de digerir, fortalece o princípio vital e o sangue, harmoniza o sistema de aquecimento do corpo, suaviza os intestinos e ajuda a eliminação de toxinas através da urina. (Contra-indicação: quem já urina muito não deve tomar esta sopa.) 
O alho é uma cornucópia de virtudes para a saúde. Espanta vírus, fungos e outros hóspedes indesejáveis, desengordura, tonifica, relaxa, faz bem ao fígado e às glândulas, limpa o sangue.
A cebola não fica atrás: também é anti-séptica, limpa e regulariza os rins e a bexiga, baixa a taxa de glicose no sangue, ajuda a absorver oxigênio.
O alho-poró reforça o alho e a cebola e dá um sabor especial.
O aipo, ou salsão, estimula a digestão e os intestinos, limpa os rins, alivia o reumatismo, acalma, nutre e tonifica; suas folhas têm um tipo natural de insulina.
E as folhas de bertalha, Basella alba, trepadeira que dá em qualquer cerca no mato carioca, são riquíssimas em cálcio, ferro, magnésio, clorofila e outras preciosidades, e ainda lubrificam os intestinos. (Se não encontrar bertalha, pode colocar chicória, cozida à parte em pouca água.)
Boa primavera – boa reciclagem!